Como não posso fazer nada, entrego-me à ociosidade. Como e bebo, durmo, leio, a custo, levo o cão à rua para fazer as necessidades (já que até brincar com ele me é difícil), escrevo, muito embora o engenho seja fraco, e vejo televisão.
Foi precisamente enquanto via um filme, em um dos muitos canais que a televisão nos disponibiliza, que me ficou no ouvido uma frase que, de alguma forma, me intrigou e me fez refletir. Um dos personagens, um homem de setenta anos de idade, teve um acidente de automóvel e ficou entre a vida e a morte. Após uma paragem cardíaca, acabou por salvar-se, segundo a sua teoria, por milagre. A certa altura do filme, e por motivos que não importa referir, dirigiu estas palavras a uma filha de trinta e três anos que sempre se mostrou bastante arrogante e até um pouco rude para com os pais, especialmente para com a mãe: “Acho que toda a gente deveria quase morrer. Ganhamos outra perspetiva, percebes?”
Rapidamente me acudiu à memória o Raúl Solnado, que depois de ter ultrapassado, um período penoso da sua vida, devido a problemas de saúde, nos deixou a célebre frase: “Façam o favor de ser felizes."
Lembrei-me da premonitória carta aos amigos, de Gabriel Garcia Marquez que, persentindo que o seu tempo de vida minguava, de entre tantas coisas bonitas, disse o seguinte:
“Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo Amor.
Aos Homens, provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.”
Pensei no vício, por exemplo, do tabaco e do álcool, em que muitas pessoas só o abandonam quando um médico os adverte de que se não inverterem caminho, cairão numa vala de onde será difícil saírem.
Veio-me ao espírito a complacência dos avós para com os netos, tão ausente quando eram pais.
É sintomático, o quase morrer ou a aproximação ao morrer, faz o ser humano assumir uma postura diferente perante si e tudo o que o rodeia, tornando-o mais tolerante, mais compreensivo, mais solidário, mais humano. Mas, então, surge a inevitável pergunta: “Porquê?”
Claro que não darei resposta alguma, não sinto legitimidade para tal, porque nem uma marioneta de trapos chego a ser, mas concordo em absoluto com o personagem do filme, se toda a gente quase morresse, teríamos um mundo melhor.
A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.”
Pensei no vício, por exemplo, do tabaco e do álcool, em que muitas pessoas só o abandonam quando um médico os adverte de que se não inverterem caminho, cairão numa vala de onde será difícil saírem.
Veio-me ao espírito a complacência dos avós para com os netos, tão ausente quando eram pais.
É sintomático, o quase morrer ou a aproximação ao morrer, faz o ser humano assumir uma postura diferente perante si e tudo o que o rodeia, tornando-o mais tolerante, mais compreensivo, mais solidário, mais humano. Mas, então, surge a inevitável pergunta: “Porquê?”
Claro que não darei resposta alguma, não sinto legitimidade para tal, porque nem uma marioneta de trapos chego a ser, mas concordo em absoluto com o personagem do filme, se toda a gente quase morresse, teríamos um mundo melhor.