Nove e um quarto de um sábado qualquer e o pingo doce já
está apinhado de gente. O meu espanto aumenta quando reparo que a maior parte
dos peixes estão com uma promoção de 50%. Grande azar, logo hoje que vinha
apenas para comprar 4 ou 5 carapaus para o almoço. Retiro a senha nº 86 e
acabam de chamar o nº 65. Que fazer, desisto ou espero? São 3 pessoas a
atender, pode ser que seja rápido.
Passa meia hora e tudo corre bem. Acabam de chamar a pessoa
com o nº 79. Mas, oh diabo, há duas pessoas a reclamar a senha 79. A
funcionária examina-as e chega à conclusão que uma delas não pertence ao lote
das senhas correntes, mas sim ao lote anterior. Atrapalhado, o indivíduo com a
senha falsa, diz que a tirou de um monte de senhas soltas como as outras
pessoas. A funcionária diz que não pode atendê-lo porque a senha não é válida.
O falsário diz que não vai dali embora sem o peixe, uma vez que já está ali
quase há uma hora. A funcionária para evitar aborrecimentos condescende e pede
ao senhor para não voltar a tomar uma atitude destas.
Calmamente, dirijo-me à funcionária e digo: “Este senhor não
é atendido com esta senha.” O esperto
olha-me de soslaio e ronca: “Quem é você para dizer que eu não sou atendido?” O
polícia, ali de serviço, passa pelo local para assinalar a sua presença. “Chame
o responsável pela secção, por favor.” Peço à funcionária. Dois minutos depois
chega a responsável pela peixaria.
Inteira-se do assunto e pede bom senso. Repito o que dissera
antes: “Este senhor não é atendido com esta senha.” A responsável sentencia: “O
senhor, se quiser levar peixe, terá que retirar outra senha.” O finório amarrota a senha do lote
anterior e sai porta fora a balbuciar impropérios. Espero mais 15 minutos e
peço 5 carapaus.