28/11/10

Do pudor ao despudor

À empregada do hipermercado, causou-lhe impressão aquele casaco de cabedal ali pendurado, primeiro porque havia já algum tempo que aqueles casacos se não vendiam e depois, porque a gola aparentava já ter andado a roçar no pescoço de alguém. Ia ela com isto no pensamento, quando dela se acercou uma senhora de meia-idade transpirando pudor por todos os poros, ao mesmo tempo que lhe dirigia estas palavras: “Desculpe, eu acho que as pessoas que aqui trabalham deviam ter um pouco mais de vergonha…” “Então porque é que diz isso?” Questionou a empregada. “É que aquele casaco que ali está, vim eu aqui trazê-lo a semana passada porque tinha um defeito e já está ali pendurado, por certo, para enganarem mais alguém…” Respondeu a honesta senhora, referindo-se ao casaco rafado pelo seu pescoço anafado. “Ah, alguém o pôs aqui com a ideia de o devolver e depois esqueceu-se de o levar, mas eu vou já tratar disso.” Volveu a empregada pensando com os seus botões: “É preciso ter lata, esta porca teve a coragem de andar com este casaco o tempo que quis, vem devolvê-lo todo sujo e depois vem para aqui dar numa de moralista…” E se não lho disse nas ventas, foi para não pôr em risco o seu posto de trabalho.