Da Política da antiga Grécia, mais não temos do que pequenos resquícios. Hoje temos a denominada ciência política.
O cidadão comum, perguntará, e com razão: "Mas que ciência? Estuda o quê?" Se consultarmos algumas enciclopédias encontraremos uma série de respostas bem diferentes das que o conhecimento empírico nos fornece e esta é a que poderemos considerar como a mais fiel. A ciência política, não é mais do que a ciência que se ocupa do estudo sobre a arte de enganar o próximo. E, diga-se em abono da verdade, que é uma das ciências que mais se tem desenvolvido nos últimos anos.
Não, não me refiro ao impulso dado na verdadeira separação de poderes, com a consequente isenção e imparcialidade do poder judicial, ou de uma assembleia verdadeiramente representativa, refiro-me sim à fabricação dos individuos que servindo-se da política, exercem os mais elevados cargos da nação.
Para se fabricar um político são precisos vários profissionais. A arte de enganar, se em muitos casos já nasce com a pessoa, na maior parte deles, é preciso algum suor para se conseguir o diploma, mas conseguem-se resultados brilhantes. Um bom político consegue fazer com que o cidadão comum acredite na maior mentira como se fosse a maior das verdades, tal é o ar de sinceridade que ele é capaz de lhe imprimir. Tudo é visto com rigor: os gestos, o tom de voz, a dicção, a repetição, o sorriso, a roupa, o público alvo, o timing etc. etc.
Os cargos políticos, que deveriam ser os mais nobres e mais importantes de uma nação, e que, por isso, na minha opinião, deveriam ser os mais bem pagos, acabam por tornar-se nos mais sujos e de mais fraca credibilidade. A política não é feita com o intuíto de resolver os problemas dos cidadãos, mas sim com o objectivo descarado de assumir o poder e de com ele se vangloriarem arrogantemente nas cadeiras e nos corredores da assembleia da república. De resto, como é que os senhores políticos podem resolver os problemas dos seus representados se nem o significado sabem de palavras tão simples como frio ou fome.
Mas o que é mais interessante observar, é o facto de as pessoas que formam este povo, em vez de estarem atentas às artimanhas que estes malandros usam para nos ludibriarem, distraem-se a ver programas de caca, divulgados em meios de comunicação social manipulados por esses mesmos políticos. José Saramago escreveu uma obra intitulada "Ensaio sobre a cegueira", onde pretende alertar a sociedade que está a encaminhar-se irremediavelmente para o abismo, mercê da sua própria cegueira. Eu acho que ele tem razão, as pessoas não enxergam mais do que um palmo à frente do seu próprio nariz e daí o estado lastimável em que nos encontramos.
Trinta e seis anos após a conquista da denominada democracia em Portugal, já deveríamos ter uma classe política com uma cultura mais responsável no que diz respeito aos reais problemas do povo que representam, no entanto, o que é que temos? Continuamos a assistir a jogos de poder infantis com o objectivo claro de auto-promoção e de domínio sobre os outros. Exemplos claros do que acabo de dizer: Recordo-me da candidatura de Manuel Alegre à presidência da república. Candidatou-se sem o apoio do PS, encostando-se ao que apelidou de movimentos de cidadania. Devo dizer que na altura achei que só um poeta poderia ter uma atitude tão digna e tão íntegra, mas rápido percebi que estava completamente enganado. Repare-se nas suas normas de conduta: Já se zangou com o líder do partido, manifestou-se contra as principais linhas de rumo da sua própria bancada, aliou-se ao BE num jantar de confronto de ideias e, a quando das últimas legislaltivas abraçou José Socrates perante as câmaras da televisão manifestando o seu apoio a uma política de esquerda possível. Isto sim, é ciência política!, este jogo sujo e descarado, com a intenção de chegar ao mais alto cargo da nação. Vale tudo... Agora recandidata-se à PR e fica à espera que o outro lhe devolva o abraço. Esperemos para ver o que acontece. Enquanto isso, assistimos impávidos e serenos. Veja-se, por outro lado, todo o teatro em volta do OE para 2010. Afinal o que somos nós nesta peça? Nada. Ou melhor, somos uns cordeirinhos que por ocasião das eleições nos dirigimos em rebanho às mesas de voto eleger esta cambada de mentirosos e ladrões. Se temos os nossos representante, se temos uma assembleia da república, porque é que não podemos assistir à discussão do OE? Porquê todas as jogadas de bastidores? Escondem-nos o quê? Porquê?
Oh maldita democracia!...