19/08/11

O gaspar


O gaspar achou por bem aumentar o gás e a electricidade em 17%, ou melhor, segundo as suas palavras, o IVA destes dois serviços da taxa mínima para a taxa normal, porque sem números não escandaliza tanto, tanto mais que muita gente nem sabe do que se trata. Começo a pensar que não seria bem este o nome pretendido para este cargo, mas que talvez por dificuldades de encontrarem um baltasar ou um belchior  não tiveram outro remédio. Não sei se foi este o da mirra, mas faz todo o sentido porque para fazer mirrar o já por si magro zé-povinho, não há como esta excelência.

Mas não são propriamente as “novas” anunciadas por este mago que me atormentam, o que mais me revolta é o nosso jornalismo. Ouvi a entrevista da judite a esse gaspar e no final dei comigo a pensar: mas que porcaria de jornalismo é este? Porque raio é que estes jornalistas não fazem determinadas perguntas de interesse geral? Não sabem? Não querem? Quem controla esta maldita informação e com que finalidade?

Porque é que essa dita judite, não perguntou ao gaspar porque motivo aumentou ele o gás e a electricidade em 17% e deixou ficar os preços dos bilhetes do futebol, o preço dos espectáculos musicais ou o preço das touradas no valor mínimo da taxa (6%)? Ok, são os lobbies! Volta Eça, estás perdoado! “O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (…) e padres que rezam contra ele. (…) paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa.” Ou como um dos seus personagens, o Conde de Abranhos, que dizia: “Eu que sou governo, fraco mas hábil, dou aparentemente a soberania ao povo, mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimento da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito…”

13/08/11

Thank You

Teria 60 anos, talvez, e aquele T H A N K  Y O U, tão compreensível quanto inaudível, que saiu dos seus lábios pintados de um vermelho vivo, acompanhado daquele sorriso tão doce, deixou-me a pensar: quais serão as preocupações do nosso cérebro enquanto ocupamos um determinado espaço público? São por certo as nossas contrariedades, as nossas alegrias, os noossos projectos, os noossos destinos, o nooosso bem estar, a nooossa companhia, o noooosso umbigo. Nunca, ou quase nunca, o nosso cérebro se ocupa com o nosso semelhante.

Era um dia de muito calor e as pessoas escolhiam os passeios à sombra. Tornava-se estreito aquele passeio para tanta gente, toda ela com tanta pressa de chegar não sei aonde. Só ela parecia não ter pressa nenhuma. Encostou-se a um caixote do lixo que estava preso na parede do edifício e esperou que a multidão que vinha em sentido contrário passasse. Eu seguia no sentido da multidão e quando cheguei próximo do caixote do lixo, encostei-me a ele do lado oposto ao dela dando a entender que era a vez de ela passar. Ela agradeceu-me com aquele T H A N K  Y O U e seguiu o seu destino. Quis dizer "Não tem de quê", porque na realidade, eu não tinha mesmo de quê, mas a única coisa que consegui foi abanar a cabeça. Alguns metros mais à frente senti que, por instantes, ela ainda me seguiu com os olhos, muito embora eu não me tivesse virado para trás.