Objecto |
31/10/11
A louca
23/10/11
Crise bendita crise
16/09/11
Povo que lavas no rio
19/08/11
O gaspar
13/08/11
Thank You
22/06/11
O circo
23/05/11
Os abutres
O que graça por aí, é a desgraça dos desgraçados, é a lei da selva. Alguém disse: “O povo português parece-se com uma lombriga, ao ver-se fora da caca morre.” Seria interessante fazer-se um estudo para se chegar à conclusão do porquê deste espírito tão estupidamente pobre.
Alenquer serviu de protótipo para o arranque da televisão digital terrestre. A partir de uma determinada data, a população iria deixar de poder ver televisão se não fizesse nada para receber o sinal digital. Excelente oportunidade para os abutres sobrevoarem a zona, já que lá em baixo vagueava um povo moribundo de conhecimento, que à simples pergunta de um repórter: “Já ouviu falar na televisão digital terrestre?” Começou por gaguejar e acabou por responder: “Não, o que é isso?” Não quis o repórter obter respostas certeiras, porque se o quisesse, bastaria que perguntasse: “Qual é o nome do personagem x da novela y?” E a outros: “Quem vai jogar a final da liga Europa?” E os abutres viram naquela resposta a oportunidade de atacar, o manjar estava à disposição. As vítimas ainda praguejaram, mas de nada lhes valeu, porque as aves de pescoço depenado, já há muito que estudavam dos céus a forma de lhes pôr as patas em cima.
28/04/11
O Prémio
Flash 14
Na aldeia, nem toda a gente tem forno, de modo que quem o não tem, vê-se na necessidade de pedir a quem o tem, que lhe faça o favor de lhe permitir cozer lá o pão. Para evitar percalços, esse pedido foi feito com algumas semanas de antecedência. A lenha que o vai aquecer, já para lá foi transportada ontem em pequenos molhos. O forno pertence a uma família abastada e fica no meio da aldeia. De frente da casa do forno existe um largo bastante grande e uma fonte. É um lugar propício às brincadeiras das crianças enquanto esperam por um pedaço de bôla quente. Numa casa ali próxima, o senhor do alambique faz aguardente. O pão já está no forno. Vai levar algum tempo a cozer. No largo, os putos brincam às escondidas. Alguns dos miúdos foram esconder-se próximo do alambique. Ao vê-los ali, o alambiqueiro desafia: “Deixo beber quanta aguardente quiser a quem me for buscar um cântaro de água à…” Não precisa de acabar a frase, pois já o Chico corre todo contente em direcção à fonte. “Bebe dali daquele jarro, rapaz, bebe até caíres de cu.” Diz-lhe o homem em jeito de agradecimento. É o que o Chico faz. Até parece que o jarro tem água. Cansados de brincar às escondidas os putos dirigem-se ao recreio da escola para jogar à bola. Todos se riem das quedas que o Chico dá. Faz-se noite e regressam ao forno. O Chico cambaleia. Ninguém se preocupa, todos pensam que ele está na brincadeira. Já no forno, o pão está quase cozido. Um dos miúdos alerta um dos adultos: “O Chico tem espuma na boca.” Sentado num vão da escada, espuma pela boca e revira os olhos. “O que é que o meu filho tem? Ai que o meu filho morre.” Clama a mãe do garoto. “Foi o senhor do alambique que lhe deu aguardente.” Acusa o que alertou para a espuma. Felizmente a aldeia tem um taxista que neste momento se encontra em casa e não mora longe dali. A confusão é geral. “Alguém que telefone ao pai dele.” Ouve-se opinar. “Não deixem queimar o pão.” Lembra alguém mais lúcido. Rápido o táxi percorre os nove quilómetros que distam ao Sátão, mas mais rápido foi o pai do Chico, que menos tempo levou a percorrer os vinte quilómetros de Viseu ao Sátão. O irmão do Chico ainda corre atrás do táxi até à estrada, a chorar e um pouco desorientado. Não sabe bem o que se passa, apenas sabe que qualquer coisa de grave está a acontecer ao irmão. Que felicidade a do Chico, o senhor doutor está no consultório e, com uma mangueira, num instante lhe retira do estômago a aguardente que ainda lá tem. De regresso a casa, o Chico é levado para a cama e, desta vez, não vai poder comer um pedaço de bôla quente com pedaços de toucinho.