06/04/13

O filho pródigo


Das parábolas de cristo, a do filho pródigo é a única de que me lembro, talvez por a ter ouvido durante tantos anos próximo do fim da quaresma. Confesso que nunca percebi onde é que cristo queria chegar com a mensagem, pois tratando-se de uma narração alegórica, encerraria nas entrelinhas uma missiva mais profunda do que a que supostamente deixava transparecer. Convinha, pois, que fosse o próprio cristo a esclarecê-la, para não suscitar dúbias interpretações.
Essa parábola bem podia aplicar-se ao ressurgimento de josé socrates na vida pública nacional, (coincidência ou não, no fim da quaresma) apenas com umas ligeiras diferenças: ele não precisou de pedir os haveres ao pai, (diga-se povo português) uma vez que tinha a faca e o queijo na mão para se apoderar de tudo o que quisesse, e também não precisou de ir chafurdar junto dos porcos à procura de alfarrobas, uma vez que o que roubou lhe permitia viver à grande e à francesa durante muitos anos, tão-pouco precisou de se redimir dos seus pecados, bastando um estalar de dedos para que o povo português o recebesse de braços abertos, premiando-o com a entrevista mais vista de sempre na televisão portuguesa e com o programa mais visto nesse dia. Irmãos mais velhos deste filho pródigo a reclamar que afinal o crime compensa e que mais vale esbanjar dinheiro em meretrizes e proxenetismo, do que trabalhar honesta e arduamente, não se ouviu falar de nenhum, porque ainda que os houvesse facilmente seriam silenciados.
Bertrand Russell
 "O problema com o mundo é que os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de dúvidas."