Das parábolas de cristo, a do filho pródigo é a única de que
me lembro, talvez por a ter ouvido durante tantos anos próximo do fim da
quaresma. Confesso que nunca percebi onde é que cristo queria chegar com a
mensagem, pois tratando-se de uma narração alegórica, encerraria nas
entrelinhas uma missiva mais profunda do que a que supostamente deixava transparecer. Convinha,
pois, que fosse o próprio cristo a esclarecê-la, para não suscitar dúbias
interpretações.
Essa parábola bem podia aplicar-se ao ressurgimento de josé socrates
na vida pública nacional, (coincidência ou não, no fim da quaresma) apenas com
umas ligeiras diferenças: ele não precisou de pedir os haveres ao pai, (diga-se
povo português) uma vez que tinha a faca e o queijo na mão para se apoderar de
tudo o que quisesse, e também não precisou de ir chafurdar junto dos porcos à
procura de alfarrobas, uma vez que o que roubou lhe permitia viver à grande e à
francesa
durante muitos anos, tão-pouco precisou de se redimir dos seus pecados, bastando
um estalar de dedos para que o povo português o recebesse de braços abertos,
premiando-o com a entrevista mais vista de sempre na televisão portuguesa e com
o programa mais visto nesse dia. Irmãos mais velhos deste filho pródigo a
reclamar que afinal o crime compensa e que mais vale esbanjar dinheiro em
meretrizes e proxenetismo, do que trabalhar honesta e arduamente, não se ouviu
falar de nenhum, porque ainda que os houvesse facilmente seriam silenciados.
Bertrand Russell |
"O problema com o mundo é que
os estúpidos são excessivamente confiantes, e os inteligentes são cheios de
dúvidas."