16/09/11

Povo que lavas no rio


O telejornal abriu com a notícia da queda de Kadhafi e veio-me imediatamente ao espírito aquele pedaço da letra de um fado de Amália: “Povo que lavas no rio, que talhas com teu machado as tábuas do meu caixão.” Esta notícia fez-me recuar ao meu tempo de infância e àquilo que me ensinavam da nossa história. Cresci na ilusão de pertencer a uma Grande nação, de espírito heróico e conquistador, à qual ninguém conseguia fazer frente. Volvidos alguns anos e posta a nu a falácia dessas recordações, vejo que não passamos de uns miseráveis e que sempre assim fomos.

No final do telejornal, bem no final, noticiavam a pré-disposição dos mais ricos de França em contribuir para a resolução financeira do país e a indisposição dos mais ricos de Portugal nesse propósito, argumentando que também eles são meros funcionários (Belmiro).

Comecemos pelos “media”: Tendo em conta a conjuntura de crise, qual seria a notícia que mais nos interessava (ao povo)? Logicamente a que informava se os mais ricos de Portugal estavam disponíveis em tirar-nos a corda da garganta (A não ser que estivéssemos em França, ou em Inglaterra, onde aí sim, a queda de Kadhafi é de primordial importância). Então, porque foi ao contrário? Porque outros interesses se levantam. Que podemos fazer contra isso? Tudo, diria eu.

Continuemos com o povo. Porque participa o povo no mesmo jogo dos grandessíssimos filhos da p. que nos roubam? Arrisco 3 hipóteses: a) por ignorância. b) por ingenuidade. c) por estupidez. Tendo, no evoluir da nossa história, dado mostras de que não somos estúpidos nem ingénuos, é mais do que lógico que é a ignorância que nos trai, sempre foi e não sabemos se sempre assim será. Vivemos num tempo em que temos armas que, não tendo gume, ponta ou pólvora, são bem mais eficazes em qualquer combate e, no entanto, a nossa ignorância, impede-nos de as usarmos. Usemos, por exemplo o boicote!... Mas usemo-lo em massa e por tempo indeterminado. Onde? Ora, vejamos: Não vendo as notícias! Não indo aos jogos de futebol! Não indo à missa! Não votando ou votando em branco! Não abastecendo de combustíveis! Etc., etc..

Acabemos com os senhores do dinheiro, a minoria do mundo que escraviza a maioria. O papel deles está explicado, compram os primeiros e servem-se da ignorância dos segundos, porque sabem que eles próprios se encarregam de talhar as tábuas do seu próprio caixão. Ámen.