16/12/10

Passear o cão

Durante todo o dia esteve um frio fora do comum, com os termómetros a acusarem temperaturas próximas dos 3 ou 4 graus centígrados. Agora que o sol acaba de se despedir e que a brisa vinda de norte se intensifica, o frio parece cortante.
Sentado na sua poltrona de pele em frente da lareira, o Sr. Manuel olha para o Óscar deitado numa outra poltrona enquanto pensa: “Se não fosse por tua causa, hoje já não saía de casa.” Mas tinha que ser. Vestiu o sobretudo, calçou-se, enfiou umas luvas nas mãos, pôs um chapéu na cabeça, colocou a trela na coleira do cão e saiu para a rua.
O passeio, desta vez, dadas as circunstâncias, não iria ser longo; era só dar tempo que o cachorro fizesse as necessidades e recolheria ao conforto do lar. Só que nem tudo é como planeamos e, sem nada que o explicasse, o faro do Óscar, detectou qualquer coisa no meio da relva, que mesmo antes de fazer as ditas necessidades, obrigou o dono a esperar impacientemente, pelo menos dez minutos até prosseguirem viagem. Coisas de cão, que nem mesmo o dono que o conhece, quase há uma dezena de anos, consegue explicar.
Não porque o Sr. Manuel o quisesse, mas porque o cão lhe tivesse dado essa indicação, ainda tiveram de passar pela rua dos sem-abrigo. Sim, porque o passeio não teria o mesmo sabor se o Óscar não fizesse esperar o seu dono alguns segundos a verter uns pingos na esquina de uma das caixas de cartão que serve de casa a um moribundo que lá dentro se encontra.
Já sentado de novo na poltrona o Sr. Manuel não pára de pensar: "O que terá feito o Óscar perder tanto tempo a cheirar na relva?"